Árido sabor das estradas
Poema de Antonio Miranda
areias em suspensão,
pestana breve do motorista
e meus olhos, ávido
de paisagem, insones,
ruminantes e analíticos.
Sempre estradas, muitas curvas
sinais, inscrições de paralamas.
Ah, meninos de beira de estrada,
das pequenas estações,
dos portos amazonenses,
dos postos de gasolina:
teus cofos de pitomba,
teus feixes de pescado
e as pamonhas com café!
Ah, mendigas cantadoras
de Itabaiana, de Patos,
de Soledade e Campo Maior,
dedilhando suas dores
em lamurientas sanfonas!
Sinto as dores de meu povo,
o arado sulcando a terra,
a semente germinando
como no ventre a criança.
Ah, o peso das horas
no corpo mal dormido,
a água fria das nascentes
e o bom dia
da pensão na estrada
em Teófilo Otoni,
em Colatina, em Uberaba!
[Em viagem, 1963]
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